domingo, 21 de novembro de 2010

E quem é normal?

Pintura de Mahmoud Farshchian
Esses dias tive contato pela primeira vez com um paciente "psiquiátrico". Bem, pessoas que têm transtornos mentais, dos mais variados graus e modos, são geralmente alvo de preconceito nas ruas, nas famílias, ... , em hospitais! Nossa "missão" era fazer um acesso venoso em algum paciente que estivesse precisando renová-lo. Enquanto preparávamos o material, todos nos diziam que era arriscado, que esse paciente já tinha quase furado uma enfermeira, que ele chutava, "cuidado com isso", "cuidado com aquilo"... Nos encaminhamos para a beira do leito e lá estava aquele senhor, todo enrolado em um lençol, com o mesmo aspecto indefeso que ficamos quando estamos doentes. O(A) professor(a) se apresentou e a primeira lição foi aprendida: DESARME-SE PARA FALAR COM OS PACIENTES... Nós saímos do conforto dos nossos lares e estamos em plena saúde, podemos agir como bem entendermos. Mas a pessoa doente está, em geral, mais fragilizada e disso não podemos esquecer. O(A) professor(a) aproximou-se do paciente, encurvou-se pra ficar ao nível dos seus olhos e informou o que iria fazer e - principalmente - porque iria fazer. Lógico que não é nada fácil explicar a uma pessoa (mesmo sem transtornos psiquiátricos) que ela vai sentir dor, mas foi-lhe explicado que seria feito o possível para que a dor fosse mínima, que era como tirar sangue!
Foi escolhido o abocath menor, para causar o mínimo de dor e facilitar o trato com o paciente. Ele, de tão nervoso, fez menção de sentir dor ainda quando estávamos passando algodão com álcool. Passou a maior parte do tempo com o braço dobrado, impossibilitando a visualização de suas veias e ainda nos disse para não segurar seus pés. Algum tempo foi gasto com aquela tentativa e com as suas sucessivas permissões e imediatas negações. Porém, muito foi apreendido naquele quadro: ao paciente dito "psiquiátrico" deve ser dispendida especial atenção e paciência e o profissional deve estar ciente dos seus limites. Após algumas tentativas, o(a) professor(a) perguntou ao paciente se este queria que nos retirássemos (o(a) professor(a) e os alunos). Ele disse "sim" e, sem irritação, saímos.
É importante que estejamos conscientes de que nem sempre é possível realizar determinados procedimentos e que isso será uma constante na prática médica. Assim, TEMOS QUE ESTAR PREPARADOS PARA RECEBER "NÃOS" (sugestão de leitura: "Quando o paciente te diz não") E PARA NÃO DESISTIR DO PACIENTE. Como eu disse, antes de irmos ao leito, fomos completamente desestimulados a prosseguir; se tivéssemos desistido, não teríamos mais essa valiosa lição!

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