quarta-feira, 10 de novembro de 2010

A primeira...


Final do ano se aproximando e aquela sensação de nostalgia foi se aproximando... relembrando as minhas experiências no Hospital "X", pensei em falar um pouco da primeira paciente que eu tive contato. Antes de iniciar as atividades de "coleta de dados", eu comecei a ler o Porto (Semiologia Médica - Porto®) e tinha o relato de algumas experiências de estudantes com pacientes. Claro, fiquei mais nervosa ainda para o que me aguardava! O fato é que era quase na hora do almoço quando eu entrei no quarto. Aquela senhora me olhou e eu disse um bom dia animado. Sempre achei que convencer um paciente a conversar fosse extremamente difícil. Comecei falando quem eu era, o que pretendia e que ela poderia me mandar embora no momento que quisesse. Ela assentiu e eu comecei a perguntar sobre a doença. Interessante como nós nos identificamos com alguns dos pacientes, e mais: como AS DICAS DOS PROFESSORES/MESTRES DE "NÃO SE APEGAR" FICAM GRITANDO NOS NOSSOS OUVIDOS. Como não se envolver com o relato da dor de um ser humano? Como não se importar com a sua trajetória e como não mostrar isso em gestos e palavras? Isso é uma arte; e como arte, cada um expressa da sua forma!
Quando as perguntas do roteiro chegaram na parte de perguntar sobre a família, a paciente começou a chorar. Ela estava envergonhada e pedia desculpas por aquilo. Desculpas por mostrar-se humana? Pois é, a conceituação de "ato médico" está socialmente tachada como "fria". Eu não tinha lenço (e nosso(a) professor(a) de "Desenvolvimento Pessoal" tinha avisado para sempre levar na bolsa!) e só pude oferecer um guardanapo que tinha na cômoda e minha licença para ela se expressar... muito anormal isso!
Uma funcionária do hospital trouxe o almoço da paciente e eu sentei para esperá-la terminar de comer. Bem, ficar observando aquela senhora comendo não foi uma boa idéia. TODA SENSAÇÃO QUE TEMOS TEM INFLUÊNCIA DE EXPERIÊNCIAS QUE JÁ TIVEMOS, então observá-la foi lembrar da minha avó e de muitas outras senhorinhas, foi pensar em como somos frágeis e o quanto de história carregamos conosco, foi brigar comigo mesma por ser cobrada para não me envolver, foi... foi... foi difícil!
Eu havia perguntado a um(a) professor(a) qual a opinião dele sobre nossas ações a beira do leito, em especial, perguntei o que ele(a) achava de passar a mão na cabeça do paciente... Sua resposta foi de que isso era muito pessoal, que o paciente confundiria isso com permissividade e que tínhamos que manter a postura de profissionais. Outro dia fomos (minha turma e um(a) outro(a) professor(a) ) discutir o caso dessa paciente. Quando todos saíram, voltei, perguntei como ela estava se sentindo e passei a mão na sua cabeça. MINHA MÃO SOBRE AQUELES CABELOS RALINHOS, RALINHOS, ME FIZERAM LEMBRAR QUE, ANTES DE PROFISSIONAL, PRETENDO AINDA SER HUMANA DAQUI HÁ 10 ANOS. O limite entre o profissional e o pessoal é muito tênue e não existe certo ou errado em ciências humanas. Eu ainda procuro o que é o certo... ainda!

5 comentários:

  1. Estou sem palavras e me sentindo um pouco parestésica! Na verdade, sentimos quando devemos nos aproximar um pouco mais e quando isso faz parte da própria terapia. E se for só isso que pudermos fazer pelo paciente? Concordo com o professor em questão, que também foi meu professor na época e entendo o que ele quer dizer com isso. Mas ele tem que entender que exceções devem ser feitas e cabe a nós decidir isso. Imaginem uma Medicina feita de forma impessoal... Seria outra coisa qualquer!

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  2. Primeira vez que venho no blog e me deparo com uma experiencia dessas, sensacional. Sou aluno do S1 ainda, mas ansioso pra poder ter uma relação com o paciente. Lendo o texto tive uma mistura de medo/ansiedade de como serei diante dos pacientes.. Apesar de ser eu ser grande fisicamente, me sinto fragil emocionalmente para isso, tensão! haha, gostei muito do blog! :D

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  3. Minha irmãzinha, eu compartilho de todo seu sentimento. Os sentimentos são fundamentais. Não espere que a academia lhe diga isso. Quantas "doenças" são causadas ou alimentadas por sentimentos desequilibrados... por situações de tensão completa, por tantos motivos...
    É muito variado e precisa de todo sentimento pra trabalhar. O que a escola ensina é só uma base, e parte dela ainda precisa ser esquecida (rs).
    Os professores são muito convencidos de sua superioridade, de sua oniciência. É preciso perdoá-los e absorver deles o que puderem ter que nos sirva, no propósito de levar aos desfavorecidos, aos sabotados da sociedade.
    Muita luz, muita paz, muita força.
    Abraço,
    Eduardo.

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  4. Há médicos de verdade e formados em medicina. O médico tem repeito pelo paciente e amor no tratamento, prazer e facilidade em explicar em palavras claras cada caso. O formado é hermético, parece saber de tudo e funciona como uma máquina. Ele enquadra o paciente nos conhecimentos; o médico de verdade adequa os conhecimentos ao paciente. O médico tem dom pra medicina, a maioria tem dom pra laboratório. Se pudesse resumir a diferença numa palavra, a única opção seria "amor".

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  5. "NÃO SE APEGAR" Talvez essa não seja a melhor dica, mas : " NAO SINTA PENA " " NAO AUMENTE O SOFRIMENTO" . Me parece que essas seriam as melhores dicas. Realmente, como não se apagar, como não se envolver com alguém que precisa do seu cuidado? Se apagar e cuidar da dor do outro com amor isso sim é ser humano e ser médico. Esse é o verdadeiro trabalho!!!
    Os médicos não são deuses,o ser humano não é Deus, não consegue e nem pode carregar o sofrimento da humanidade. Com o peso além do permitido niguém consegue andar. Isso é que tem que ficar claro. Mas deixar de amar,ouvir, contribuir com a melhora alheia, jamais!
    Fico orgulhosa de você.
    Meu carinho e minha admiração!!!
    Que seu caminho seja sempre esse!

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