sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Toda mulher é igual

Imagem retirada de donaoncinha.com.br
Levantou a pequena blusa e mostrou a barriguinha roliça. "Cadê a manchinha? É essa aqui?". A menina faceira sorriu e disse que era essa, mas tinha outra. A mãe disse que ela mostrasse a mancha maior e a pequenina se virou, deixando a mostra um branco que parecia um pedaço de uma aquarela retirada das mão de um pintor. A mãe nos olhou interrogativa. Analisamos, friccionamos, colocamos luz. Vimos e revimos aquela pequena mácula no corpinho da criança. Ela já havia sido avaliada por uma dermatologista que lhe prescreveu uma medicação, mas não orientou a mãe, não lhe disse do que tratava e tão pouco dispendeu ao menos 2 minutos no atendimento. Perguntou à mãe se ela poderia pagar uma medicação de 70 reais. E depois perguntou se ela poderia pagar uma de 90 reais.
- POXA, DOUTORA. ELA É MINHA FILHA, EU TERIA QUE DAR UM JEITO. FICAR PERGUNTANDO SE EU POSSO PAGAR ISSO OU AQUILO EU DARIA UM JEITO!!!
Mas o que lhe preocupava deveras era o fato de a "doença" da filha ser para sempre, de ela ficar diferente da idealização que as mãe fazem: o filho perfeito, sem manchas, com todos os 20 dedos, educado, esforçado e que todos adoram! Quando penso nisso, lembro do que minha mãe sempre me dizia quando eu ficava horas na frente do espelho, inumerando as dezenas de defeitos que eu encontrava: "Não diga isso, você é perfeita. Você não sabe o quanto eu rezei para que Deus fizesse você assim". Aquilo estava longe de me consolar na época, e hoje, em frente àquela mãe, tive a certeza que a sina de muitas mãe é se desgostar em ouvir as reclamações estéticas de suas filhas... e com aquela mulher não seria diferente, independentemente de ficar apenas naquela manchinha ou não.
Como o provável diagnóstico (uma doença estética, mas que poderia evoluir com manchas em todo o corpo da criança), a mãe se mostrou bastante triste. "Deus que me perdoe, mas preferia até que fosse essa tal de hanseníase, pelo menos tem cura". Dissemos que ela também poderia usar medicações para estabilizar a doença, sem falar na possibilidade de a doença não evoluir por si só, mas eu sabia, independente do desfecho, que aquela mãe passaria pelo mesmo problema de tantas outras mães: convencer sua filha de que ela é linda, dentro da perfeição que é o ser vivo.

Um comentário:

  1. Audinne, a garrafa em que você prendeu o lirismo caiu e quebrou-se: tá jorrando lirismo pra tudo quanto é lado. Que bonito.

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